Eles somos nós

Ele chega na balada com uma camisa Hollister ajustada ao corpo de forma que os músculos quase rasguem o tecido evidenciando as horas que dispensa no cuidado ao seu corpo. O tênis impecavelmente branco da Adidas, parece recém saído da loja e o relógio e corrente de ouro no pescoço coroam o seu look pegador-narcisista-rico-ostentação. Ele saiu de casa hoje, tendo por objetivo beber uma vodca Absolut ou um 12 anos bem caro, numa festa de sertanejo universitário com os amigos e de quebra pegar umas novinhas para uns amassos gostosos, no fim da festa, dentro da Land Rover que ganhou de seu pai de aniversário.
A novinha premiada da noite do nosso “herói” é aquela mais risonha no grupinho de mulheres que estão sentadas junto ao balcão do bar tirando fotos com seus IPhones, para mais tarde postarem no Instagram. Ela é deslumbrante, loira como manda a moda, vestida com um top cropped e uma saia curta de modo a mostrar a sua barriga negativa e suas coxas definidas fruto de horas de malhação, pilates, corrida e uma infinidade de exercícios físicos e dietas prescritas.
Já na terceira dose de tequila dela, ele convida ela para dançar... uma, duas, dez músicas... dois, seis, vinte beijos quentes... cinco, seis vodcas a mais. Ele chama ela para saírem dali e ir para o flat dele na área nobre da cidade. Ela vai, eles transam, ele admira sua performance de macho alfa pelo espelho preso à parede próximo a sua cama. Eles dormem. Ela adormece acreditando que encontrou o cara que pode bancar seus luxos. Ele dorme torcendo para que ela acorde antes dele e saia de sua casa deixando apenas um bilhete na geladeira e não volte a ligar. Eles são descartáveis. Eles vivem o que possuem. Eles nada são. Eles somos nós. 

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