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Mostrando postagens de julho, 2018

Começar

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Ele precisa por em dia os milagres, afastar-se dos medos e pecados. Ele tem urgências para escrever e exorcizar os seus enganos, crenças erradas e fatalidades. Ele tem pressas para curar-se do que acredita que deve se curar. Ele tem data marcada para estrear-se. Ele não pode esperar pelo que já esperou demais. Ele se põe como adequado, correto, direito, puro para poder merecer. Ele não sabe o que é merecer. Ele atualiza suas esperanças por conta das angústias. Ele espera a revelação, a intervenção, o salto, a descontinuidade. Ele se banha para jamais se sujar. Ele se pune por não se sentir outro, melhor, mais digno. Ele não pode mais esperar pelo que já esperou demais. A ansiedade é a muleta com que se dirige ao peito. Sente ânsias. Sente o medo. E mal sabe que ao desistir de tudo poderá tudo então (lhe) começar.  Guilherme Antunes, A Ilha de Um Homem Só

Buenos Aires

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Buenos Aires tem mesmo bons ares. O vento frio vindo não sei de onde, contrasta com o sol que está ali, mas parece que não está disposto a nos aquecer. A cidade respira cultura em seus prédios semelhantes aos vistos na Europa, nos monumentos louvando os heróis de outrora, demonstrando que tem orgulho de seu passado e se preocupa com que o será no futuro.  Preocupação que se vê na discussão da descriminalização do aborto, na educação e no trabalho. Os argentinos brigam pelo que acreditam, discutem, debatem. E leem. Nunca vi tantas livrarias por metro quadrado e tantas pessoas lendo em praças e parques. Oxalá um dia tivéssemos essa cultura em nosso país, de ler o mundo, de contemplar as coisas e deixar que a vida passe ao modelo portenho, sem pressa alguma.  Don’t cry for me , Argentina! Voltarei outra vez.  27/06/2018 Navegando pelo Rio La Plata entre Colónia del Sacramento (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina)