Cartas de amor
Já escrevi
longas cartas de amor com minha inicial entrelaçadas com a de alguém, num clichê
adolescente de quem acha que só se ama uma vez na vida. E coloquei ali as frases
mais lindas que iam ao meu coração escrevendo com um sentimento digno dos melhores
dramas hollywoodianos.
Já fui ridículo por amor. Já escrevi tantas
letras de música que fossem capazes de caber em um caderno brochura de capa
dura ao qual me agarrava quanto um amuleto para onde quer que eu fosse. Aquelas
canções me traduziam de um jeito que eu nem mesmo sabia que fosse possível
existir, e escrevê-las satisfazia o meu desejo oculto com a escrita. Hoje não me sinto mais o mesmo desejo por cadernos dessa natureza.
Já idealizei
por amor. Lugares, pessoas, coisas, vidas foram pensadas por mim como reais,
mas estava apenas um passo de uma fantasia que nunca se concretizou. E sabia
que eu poderia escrever uma história (de amor) com todos esses elementos e
mesmo assim nada disso seria real. Porque aprendi escrevendo bilhetes de amor,
e não mais cartas, que a realidade é bem melhor que a fantasia.
Já escrevi
cartas de amor, hoje só bilhetes.
“Todas as
cartas de amor são ridículas, não seriam cartas de amor se não fossem
ridículas...” (Álvaro de Campos)
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