A sonhadora


Ela vivia em um mundo distante diziam todos os que a conhecia. Autista? Não. Maluca. Um pouco. Sonhadora. Talvez. Idealizava lugares, pessoas, conversas, situações. Era daquelas que acreditava em princípes encantados, embora não tivesse mais idade para fantasiar tanto, mas ela sonhava com ele. Sonhava seu príncipe não como aquele que chegava sempre no fim da história e não tinha nada de bom pra contar a não ser que viveria feliz para sempre com a princesa. O seu feliz pra sempre não existia. Queria ser feliz o tempo todo, como almejam todas as pessoas desse mundo, uma felicidade inconstante, sem explicação. Acreditava na felicidade plena junto ao seu príncipe da mesma forma que Macabéia acreditava em anjos, e porque acreditavam eles existiam.
Ficava horas na janela de sua casa comendo maçãs torcendo para que uma estivesse enfeitaçada e quando saía para algum lugar com suas amigas calçava sempre as mesmas sandálias, talvez assim, repetindo esses rituais dos contos que ouvira na infância, as palavras dos livros de seu pai tornasse forma e ela fosse a escolhida para dançar no baile, ser coroada princesa, adentrar salões suntuosos.
Certo dia, sentada na lanchonete do centro da cidade, se deliciando com uma coxinha e uma lata de Coca-Cola enquanto esperava o horário do seu curso de inglês, longe dos sonhos de princesa e perto de uma realidade de estudante eis que ele passou em sua frente. Não tinha coroa, nem cavalo branco e muito menos se aproximou querendo calçar-lhe o sapato de cristal, simplesmente parou e perguntou onde era o curso de inglês. Ela com a boca toda suja de maionese lhe indicou o caminho. Estava se achando a bactéria da mosca do cocô do cavalo do bandido por estar pouco apresentável, mas estava feliz, porque de tanto sonhar deram uma forcinha lá em cima e daqui pra frente ela daria um jeito de tudo isso tornar realidade. Depois disso o curso de inglês nunca fora o mesmo...

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