Segredos
A sujeira estava em mim mesmo eu estando transparecendo limpeza e cuidado. Unhas cortadas, cabelos bem penteados, roupas alinhadas com a carreira profissional a que me dediquei, mas a impureza estava dentro, num lugar onde ninguém via sendo eu o único que era capaz de enxergar. Nem todos os sabões do mundo eram capazes de alvejar o meu ser. Limpeza assim só pode ser bem sucedida se feita de dentro pra fora, no entanto, o meu interior estava fechado, como um grande baú cheio de quinquilharias que não se sabe onde está a chave para abri-lo.
Mas foi numa tarde cálida de verão que as trancas do baú se derreteram. Havia calor em mim, meu coração não tinha sido congelado com a frieza da minha alma. A criança adormecida em mim acordara depois de muito tempo em sono profundo, como a princesa na história que ouvira de minha mãe quando pequeno. Eu fui capaz de saber realmente o que era ser feliz, ser querido e acima de tudo ser amado. Me belisquei diversas vezes pra saber se era sonho ou realidade. Renasci. Agora meu semblante transparece realmente o que sinto, o que sou e o que quero ser. As velharias do antigo baú foram jogadas fora, não sentirei falta delas, não preciso mais delas.
A quem devo a grande mudança feita em mim? Ah... isso é segredo!
Você escreve de uma forma intensa que lembra C. Lispector. Parabéns
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