A partida
Estava eu ali, parada, absorta, mãos procurando algo para ser tocado que ocupasse o vazio deixado pela despedida dos seus dedos enlaçados nos meus naquele dia quente de verão em que fui abandonada no cais dando adeus a algum desconhecido que partia num navio pra nunca mais voltar, alguém que achavam que me era conhecido, mas que não passava de um estranho em minha vida. Você! Sim, parece que nunca o havia conhecido de verdade. Que mesmo em tanto tempo continuava a ser como uma equação matemática de difícil solução mesmo para doutores no assunto. Então houve o dia que se cansou das minhas inúmeras tentativas que eu fazia ao tentar desvendar os seus mistérios e aconteceu o parto. Não desses em que são concebidas crianças, e que mesmo em meio à espera e a dor quando é chegada a hora há alegria suficiente depois. Com a gente foi diferente. Houve dor e lágrimas e não existiu felicidade. Existiu lembranças nossas, alegrias suas e lágrimas minhas. Não era para alegrar-me junto com você? Afinal não teria trabalho algum em desvendar-te mais. Livrei-me de algo inalcançável, bom pra mim! Errado. O queria mesmo era te alcançar, te desvendar e buscar ser feliz ao teu lado, porém o navio vai longe e o seu interesse por mim viaja junto com ele.
Júlia Siqueira
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