Palavras da Estrada II



Rostos estáticos sorriem para mim através da janela. Pessoas pobres parecem-me mais ricas de alegria do que meus ricos amigos pobres de amor. Rostos paralisados pela velocidade que me movo contam-me mil histórias de luta pela vida em apenas um segundo. Uma senhora vagueando encostada ao seu casebre fumando cachimbo (cachimbo, acredita?), em toda sua simplicidade, parece saber mais da vida que os doutores.
O rio barroso segue seu curso e se encontra com o céu pacificamente lá na linha do horizonte e, assim, distantes, começam uma transa louca. O sagrado já é mais vil que o profano e todo milagre, por mais que seja humano, é aplaudido em tons róseos e dourados pelo pôr-do-sol.
É triste a vida de quem não viaja, mesmo que lendo um livro sentado numa cadeira, de quem não cruza um novo horizonte, de quem não cruza uma nova fronteira todos os dias. É infeliz a vida de quem não passeia, mesmo que seja na praia, sentado numa rede, o coração morre de fome e a alma de sede; não evoluímos e nos tornamos apenas seres anônimos dentro do trem parado da nossa própria vida.

Valber Santos

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