Maria
Maria tinha os olhos mais cheios de vida que um dia eu vi em alguém, mesmo que a vida estivesse se esvaindo pelos seus dedos enrugados. Era uma idosa simpática na casa de seus oitenta anos, que sentava-se todos os dias na porta de sua casa e ficava vendo a vida passar como ela gostava de dizer. Certa vez no alto da minha imaturidade disse a ela que viver não é algo que se passa diante dos olhos e sim algo mais forte, mais empolgante do que se sentar e observar o canto dos pássaros ou os carros que iam e vinham. E ela com aquele sorriso já incompleto de dentes, mas sincero como nenhum outro me respondeu: - Meu filho, vai chegar o dia em que suas pernas não serão mais ágeis para correr e nem sua boca tão rápida para falar, tudo vai se desacelerar e verás que observar a vida é uma das últimas alternativas para quem ainda quer viver. Hoje você não tem metade do prazer que tenho na minha calmaria, mas quando tiver na minha idade irá desejar ter tido uma vida menos agitada, e entenderás