Desistir dos olhos
O amor acaba
quando poesia desiste dos olhos. O amor se despede quando janela se torna
janela apenas e as estrelas, pontos no céu; quando sonhar se faz tão-somente
intervalo entre os dias. O amor acaba pela reincidente aridez de dentro, por
laço que endurece, espinho que cativas, ferida que cultivas, distâncias que
nascem entre nós e a vida, entre nós e o outro. E o que dizer do amor que
jamais morreu por não ter fim, mas que hoje deixou de ser? Qual linha, palavra
ou ausência traça o limite entre o que éramos do que não mais seremos? Talvez o
amor só deixe de ser por nunca ter sido o que havia de se tornar: amor. A poesia
acaba quando amor desiste dos olhos.
Guilherme, A ilha de um homem só
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