Re[leve]

Em algum manual perdido escrito a nanquim há a inscrição em letras garrafais que temos que anular, por vezes, nossa liberdade para viver o que outro espera em um relacionamento. Basta o status mudar, (Ok, estamos namorando!) para que paulatinamente apareçam crises, brigas infundadas e imbecis e o que antes era tranquilo quando era tudo despreocupado e divertido se transforma num caos. Não, não nos prepararam para os relacionamentos, e dos mais diversos possíveis. Tudo é levado com um peso enorme. Acaba-se o feeling e tudo precisa ser vivido de maneira cronometrada e piegas.
O que precisamos entender então para melhorar? Nada! Você não precisa melhorar. O que é ser melhor e pra quem se precisa ser melhor? Quem é o juiz que avalia que você é um merda ou um anjo? Estamos falando de relação ou do Juízo Final? É preciso entender que o que os outros qualificam em bom em você é aquilo que elas avaliaram, mas nem sempre é aquilo que tu és. A vida definitivamente não é um comercial de margarina.
Então, não tem essa de anulação, de mudança, precisamos falar de acolhimento. Acolher o outro com respeito, tolerância e paciência. Respeitar sua individualidade e liberdade, sem a chata necessidade de provar diariamente e em doses farmacêuticas você ama. Ama-se pelo estar junto, ama-se quando você não está 100%, ama-se e ponto. Não tem como problematizar isso. Alguém gosta de você e você gosta desse alguém. Fim.
Olha como seria bem melhor: eu te amo, você me ama, nós nos amamos e vamos viver a nossa vida compreendendo que você não precisa todos os dias estar bem, com o melhor de você, porque todas as suas versões são incríveis, pois elas só refletem o quão diversa você é. Eu dou a alguém a leveza de ser quem ela quer ser, sem que a pessoa seja apenas uma projeção dos meus desejos. Eu permito a alguém ser real e não uma fantasia. Relevo e deixo que a coisa se torne leve, jogo o manual no lixo e reescrevo outro, só meu.

Júlia Siqueira

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