Caetano não é pra high-techs
Lembro que as primeiras músicas que ouvi Caetano cantar foram Sozinho e
Você é Linda, isso nos idos dos meus dez anos. Na adolescência tive aquela fase
rock e depois me entreguei a MPB e seus novos e veteranos cantores. Gostava
muito de Chico, Elis, Nara Leão, Bethânia e Caetano. Mas ele não era o meu
preferido, até que ouvi Sampa e tudo mudou. Quantas letras lindas essa mente
foi capaz de criar. O ouço agora de um jeito diferente, digerindo cada frase,
cada letra explícita e implícita, cada acorde. Foi nesse espírito que fui ao meu
primeiro show com ele. Um show dele com seus filhos igualmente talentosos.
Queria só ouvi-lo, apenas. Ouvir a voz desse ser tão encantador, como diria uma
quase-minha-amiga-de-um-só-dia que já se foi.
Tanto era minha loucura calada e contida, minha euforia silenciosa, que
coloquei meu celular em modo avião, pois nada deveria atrapalhar aquele momento
que beirava o sagrado, pelo menos pra mim. Mas eis que as pessoas ao meu redor
profanaram meu momento, não silenciaram, estavam a postos com seus dispositivos
brilhantes e aquilo me incomodou, mesmo sendo um usuário mais que frequente de
smartphone. Era como se o papa pregasse e os fiéis não estivessem ligando para
as suas palavras. Caetano estava ali, um homem dos mais incríveis da música
brasileira, e as pessoas não estavam interessadas em ouvi-lo, mas em filmar o
seu show nessa loucura esquizofrênica moderna em que não apreciamos o instante
tentando colocar ele numa mínima tela e descartar quando a memória estiver
cheia.
Antes de findar o show tiro duas fotos, as únicas, só pra eternizar a
mágica de tudo que vi e ouvi. Obrigado Caetano e desculpe pela nossa gente
humilde que ainda não sabe apreciar a arte sem um celular apontado pra
frente.
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