O olhar do menino
Ao abrir os olhos para a vida e chorar seu primeiro lamento, agudo e forte, o menino assustou-se. Vultos amontoavam em suas retinas causando-lhe confusão e para ele era mais vantajoso passar os dias de olhos fechados até que conseguisse ter discernimento suficiente para processar tudo aquilo. Dormia por horas, acordava um pouco e voltava ao sono, como se para fugir da nova realidade que o assombrava. Sentia-se protegido e ao mesmo tempo só. O tempo foi passando, o menino foi crescendo, e as coisas não melhoraram. Solitário num mundo cheio de gente, ele mantinha seu assombro no olhar. A cada novidade vista um novo susto. A vida era um acúmulo infinito de grandes novidades em velhas roupagens, mas ele não perdia a esperança de um dia finalmente se entender com ela. Seus olhos logo precisaram de óculos, condição quase natural de quem nasceu numa era dominada por telas brilhantes e chamativas, mesmo assim as lentes não o ajudaram a entender como eram as dimensões do que ele via