Faxina


Rasguei todos os papéis acumulados, ordenei as roupas por cores, alinhadas como se tivessem dispostas em uma loja de grife, lavei as cortinas da sala, troquei a roupa de cama batendo de leve nos travesseiros para sentir o cheiro de lavanda que tem o amaciante novo que comprei. Fiz uma faxina externa para que eu possa abrir espaço para uma dentro de mim.
Peguei papel e um lápis já gasto e me sentei na cama, para escrever o que eu quero fazer a partir de hoje – um sábado de chuva, de céu cinza cheio de nuvens -. Na primeira linha escrevi que pararei de me importar com opiniões alheias, afinal o peso das escolhas cairá sobre os meus ombros. Me afastarei de algumas energias, de pessoas que vampirizam, intoxicam com queixas e lamentações infinitas. Correrei léguas de quem se inquieta com as minhas conquistas, quem se sente pequeno diante do brilho alheio, quem maldiz e maltrata.
E estudarei com afinco, lerei com voracidade, como quem consome uma droga após dias de abstinência. Planejarei viagens, conhecerei tantos lugares novos eu possa, para que consiga enxergar as pessoas além de meu sítio ou daquilo que dizem sobre elas. E vou amar, com a força que meu coração e minha alma for capaz até chegar à exaustão de tanto amor, porque é disso que nós precisamos.

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