Apocalipse

A gente vive nossas vidas cotidianamente como se houvesse tempo para realizarmos todos os nossos projetos pessoais. Vez ou outra inventamos uma novidade, abortamos algumas ideias porque elas não correspondem mais com a nossa vibe no momento e seguimos em frente, atrás de novas coisas para nos ocupar. Diariamente nos pegamos imersos a uma rotina tão cansativa que nos falta tempo de encontrar as pessoas, sair de casa mesmo cansado, beber um vinho naquele copo de extrato de tomate e ver a vida passar. Adiamos sempre que possível. O “vamos marcar algum dia” ou “essa semana, sem falta, nos encontramos” estão tão presentes em nossos diálogos e tão distante de nossa realidade. Não encontramos mais ninguém, não fazemos mais nada além de nos atirarmos na cama depois de um dia intenso de trabalho/ estudo e interagimos virtualmente com as pessoas sem a necessidade de nos encontrarmos com elas. Tá bom né? Outro dia. Outra hora. Outro momento.

Mas aí descobrimos que um asteroide entrou em ponto de colisão com a Terra e toda a vida em nosso planeta deixará de existir, nós deixaremos de existir. E é nesse momento então que a gente decide dizer sim para tudo aquilo que negligenciamos durante uma vida inteira, como numa obrigação de viver os últimos dias intensamente. E porque não vivemos nossa vida de maneira intensa? E por que razão não cortamos o cabelo naquela ocasião? Não fizemos aquela tatuagem gravada no rolo de câmera do celular? Por que deixamos viver? O que fizemos (ou não) de nossas vidas?

O mundo não acabou, mas a gente um dia não estará mais aqui. O adágio “só se vive uma vez” é uma grande mentira! Se vive todo dia, mas só morremos uma vez apenas.