Teatro
Durante alguns anos não era eu. Era alguém vestindo a minha pele e
atuando em meu lugar. Não era eu, não podia ser eu. Nunca fui dado a ser
obediente, sempre amei a rebeldia, mas estava eu ali, no trabalho certinho, na
vida quadrada dessas que não causam arrepio na espinha, vivendo os dias um após
o outro sem grandes emoções ou algo diferente.
Não, não pulei de bungee-jump naquela viagem para a serra, aliás, nem
viajei para a serra, pois tinha que economizar para viver aquela vida. Sim,
aquela do papel que tinha que representar. E assim economizando dinheiro, acabei
me economizando. Viajei de menos, li menos, bebi menos, vivi menos. Foi então
que cogitei parar de viver, interromper esse processo doloroso que chamamos de
vida. Contudo, alguém tinha um papel perfeito para mim e eu poderia apenas
atuar nele, um ator de Hollywood em seu papel mais importante, então aceitei.
Mas não era eu. Era alguém vestindo a minha pele e atuando em meu lugar.
Não era eu, não podia ser eu.
Nunca fui eu.
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