Entre sabões, amaciantes e tristezas...



Esse povo de hoje em dia me inventa cada uma! Agora qualquer tristezazinha de nada é depressão, daquelas que tem que tomar remédio pra sarar. Onde já se viu? Como eu nasci e me criei na roça, aprendi que tristeza sara com uma coisa: trabalho. Nada que uma trouxa de roupa suja pra bater e uma casa pra varrer não resolva! É tiro e queda. Mainha dizia pras filhas mulheres que trabalhando a tristeza saía no suor.
E assim estou aqui, vivinha da Silva, sem nenhuma tristeza em minha memória de apenas 75 anos. Das que eu me lembro só das mortes de mainha e painho, mas eu curava no tanque e na vassoura, não dava tempo pra entrar em depressão. Acho que essas doençadas é coisa de quem vive em médico. Eu mesma só apareço em hospital pra fazer visita. Quem procura acha né gente? Vai que numa ida ao doutor eu encontro alguma coisa que não queria achar. O que os olhos não veem o coração não sente, não é assim? Deixa eu quieta no meu canto. Qualquer dor que sinto, eu bebo um chá de cidreira que cura tudo, menos língua de gente fofoqueira.
Mas voltando, esse negócio de gente triste pelos cantos é coisa da modernidade mesmo. Depois que inventaram máquina de lavar o povo ficou preguiçoso e aí deram lugar a tal da depressão. Vai entender... Pra não ficar preocupada e me entristecer com essas coisas do mundo de hoje vou ali viu gente varrer a casa pra suar a tristeza que tá pra brotar. Dá licença?

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