Uma história pra não esquecer
Não sei onde estou! Se me
encontro em um futuro distante ou em um passado próximo, vivendo o agora em um
lugar que não há calendários, relógios ou qualquer mecanismo que seja capaz de
contar o tempo. –Temos nosso próprio tempo – disse-me uma mulher gorda e sagaz,
de dentes alinhados e sorriso sincero enquanto ajeitava os seus óculos
esquisitos em seu rosto.
Naquele lugar que nem
sabia o nome ouvi histórias feitas pra esquecer, de reis e rainhas que passaram
cola em seus tronos e jazeram ali com os traseiros grudados para nunca sair do
poder. De pessoas que usavam os seus corpos como tapetes, escadas, rampas para
o povo passar. De crianças que andavam de ré e idosos que caíram em abismos por
andar sempre pra frente. Nada ali soava normal. Nada ali aparentava o mínimo de
normalidade.
Foi quando um forasteiro
ali chegou. Trazia em suas mãos um enorme embrulho, todos os olhavam admirados.
- O que será que traz ali? – falou a criança tropeçando em seu skate. - De onde
vem? – falou uma mulher-tapete. O burburinho quanto ao que trazia o homem
aumentava. Ele subiu até a torre alta da Igreja e ali colocou um relógio grande
e ajustou-o de acordo com o que trazia em seu pulso. Marcava 14h23min.
A falta do tempo marcado
em compassos, segundos, minutos, horas, dias, deixaram as pessoas
desorganizadas, a vida maluca. As pessoas não sabiam mais quem eram, pra onde
iriam, de onde vieram e um simples relógio e com ele um novo tempo, trouxe
novas formas de se viver. As pessoas deixaram de ser tapetes para os outros
pisarem e escada para subirem, os poderosos perceberam que a cola os deixavam
atrofiados em seus corpos e isso fazia com que logo morressem, as crianças
souberam que andar pra frente é melhor e os idosos entenderam que sempre há uma
hora pra recuar. A vida ali voltou a existir. E a história se tornou uma pra
não ser esquecida.
Comentários
Postar um comentário