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Mostrando postagens de janeiro, 2013

Sobre saudade

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Somos e seremos eternamente saudosos. Sentimos saudades do que nós fomos, daqueles com que nos relacionamos, de quem amamos de verdade. Talvez isso seja o grande mistério da humanidade, a capacidade de sentir falta do outro, de entender que precisamos de alguém e que a sós não faremos muita coisa. Essa incompletude do ser humano nos faz únicos, sempre procurando e sentindo falta de algo maior e de alguém. Buscamos saber se pensam em nós, se sentem a mesma falta que sentimos, se falam de nós. Buscamos no outro o complemento do que somos, e quando longe sentimos saudade.

Mudanças

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Mudanças são sempre difíceis. Mudar o cabelo assusta nos primeiros dias, mudar de casa faz com que se perca o sono nas primeiras noites, mudar de emprego nos dá certa insegurança, mas mudar é bom, sempre é. Imagine se vivêssemos apenas uma estação do ano, ou se a lua permanecesse sempre nova. Quando a veríamos cheia? Ou melhor quando o verão daria lugar ao outono e assim sucessivamente? Nunca. Seria tudo muito chato. E se não der certo? Quando dará? – perguntamo-nos. Não custa tentar...

Quadrilha

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No primário, lembro-me bem, li dentre muitos textos um de Drummond que se chamava Quadrilha. Acho que todos, ou a maioria de nós, tiveram essa experiência. O texto era assim: “João amava Teresa que amava Raimundo   que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili   que não amava ninguém.   João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,   Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,   Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes   que não tinha entrado na história.” Hoje, passado tantos anos, entendo o que talvez ele queira ali dizer. Aquele que não amava ninguém achou alguém e ficou bem. Salve Lili!

A maior tragédia de nossas vidas

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Morri em Santa Maria hoje. Quem não morreu?   Morri na Rua dos Andradas, 1925.   Numa ladeira encrespada de fumaça. A fumaça nunca foi tão negra no Rio Grande do Sul. Nunca uma nuvem foi tão nefasta. Nem as tempestades mais mórbidas e elétricas desejam sua companhia. Seguirá sozinha, avulsa, página arrancada de um mapa. A fumaça corrompeu o céu para sempre. O azul é cinza, anoitecemos em 27 de janeiro de 2013. As chamas se acalmaram às 5h30, mas a morte nunca mais será controlada. Morri porque tenho uma filha adolescente que demora a voltar para casa. Morri porque já entrei em uma boate pensando como sairia dali em caso de incêndio. Morri porque prefiro ficar perto do palco para ouvir melhor a banda. Morri porque já confundi a porta de banheiro com a de emergência. Morri porque jamais o fogo pede desculpas quando passa. Morri porque já fui de algum jeito todos que morreram. Morri sufocado de tanta morte; como acordar de novo? O prédio não aterrissou da manhã, como

Lembranças

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É madrugada, chove lá fora, então decidi pegar a velha agenda que fica ao lado da minha cama e escrever alguma coisa, riscarei apenas meu nome ou quem sabe vou somar as contas do mês – pensei, mas no mesmo instante, como por mágica, você vem e se torna protagonista do meu pensar. É engraçado como depois de tanto tempo separados ainda consigo te ter por perto (é, desse jeito irônico, paradoxal e contraditório). Ainda conseguimos por telefone, das poucas vezes que ainda nos comunicamos como “amigos”, dizer as mesmas coisas juntos em uníssono, rir disso e depois “brigar” pra quem irá responder a pergunta “e aí, você tá bem?” primeiro. Na verdade a minha pergunta ainda continua assim “Ei, sabia que eu ainda te amo?” Continuando, acho que o mais intrigante de tudo, de toda essa história que por vezes me deixa fora de mim, é o fato de não termos registros. Uma foto juntos, um nome entalhado numa árvore de praça, nada. Porém, trago tudo aqui guardado nessa mente que não esquece detalh

Ciclos

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“É bom olhar pra trás e admirar a vida que soubemos fazer...” A nossa vida é feita de ciclos, e hoje se fechou mais um pra mim. Há algum tempo atrás entrava na faculdade e hoje foi o dia de dar tchau ou um até breve. Mas tristeza maior é se despedir daquilo que preencheu sua vida durante muito tempo, é como parir um filho e abandoná-lo ainda na idade mais tenra. Ali construí amizades, cúmplices, irmãos. Aprendi coisas que vão além dos conteúdos, que são ensinamentos de vida. Criei responsabilidade, chorei de desespero por ter que me virar por vezes sozinho, bebi alguns goles de vodca pra relaxar depois de uma prova cansativa. Vivi, por vezes enlouqueci. Mas sinto agora uma saudade... Próximos ciclos virão, tão bons quanto esse assim espero.

Amar é bom

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As pessoas estão com medo de amar, e o pior de tudo de serem amadas, a ponto de qualquer demonstração de carinho, afeto e amor mesmo serem confundidas com segundas intenções ou algum duplo interesse. Não se pode mais amar pelo único fato de querer bem? Não. Não mais nesse mundo! Às vezes até acho que sou de algum planeta que não é esse e que cai da minha nave aqui por acidente. Quem sabe seja pra fazer um restrito número de pessoas entenderem (ou buscar entender) que amar é difícil, mas não é impossível. Tomara. 

A arca

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Em conversa com Deus, pedi a Ele uma nova arca... é, uma igual aquela que Noé construiu. Eu a queria de aniversário! Deus deve ter me achado mais maluco do que o habitual. É que queria proteger as pessoas que amo, Deus – expliquei. Esse mundo anda tão virado... O tempo passou e hoje pela manhã o carteiro me trouxe um pequeno envelope. Era dessas associações religiosas que fazem serviços filantrópicos. Abri a carta sem muito ânimo, resmunguei alguma coisa e me surpreendi com o conteúdo. Havia ali o famoso desenho da arca de Noé, com os animais entrando nela em pares e um texto que dizia mais ou menos assim: “Não há arca para protegermos quem amamos do que o nosso próprio coração...”. E eu já tinha uma arca e não sabia. Obrigado Deus!

Liberdade

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Certo dia uma senhora de idade já avançada resolveu soltar o seu único animal de estimação, um periquito que vivia há 5 anos em sua companhia. Sabe aquele ditado que diz pra deixar as coisas livres e que se elas voltam é porque de alguma forma elas lhe pertenceram, pois então, foi nesse sentido que ela resolveu libertar o seu pássaro do cativeiro. Naquele manhã quente de verão, ela abriu a gaiola e esperou o periquito sair, ele ainda desconfiado olhou o exterior da gaiola, colocou a cabeça pra fora e num vôo certeiro sumiu pelos ares. Passou dias, semanas e nada dele voltar. Em um dia atípico da primavera do mesmo ano, o periquito resolveu aparecer e a sua antiga dona com saudade queria prendê-lo novamente. Ele voou para longe e nunca mais voltou ali. Quem já experimentou a prisão da gaiola e a sensação de liberdade fora dela, dificilmente quererá aprisionar-se novamente.

Um presente

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Estava entediando de passar os canais da TV naquela tarde chata de domingo. Vamos à praia – eu disse, mas você sempre demorava de se arrumar para sairmos, e enquanto isso eu ficava esperando, passeando entre os canais e a rotineira e sofrível programação dominical. Mesmo em meio a isso me sentia feliz. Esperava por alguém. Alguém se preparava pra sair comigo de mãos dadas na rua como adolescentes que tem o seu primeiro amor. Não era o meu primeiro amor, nem tão somente o meu último, mas era, era amor. Alguma coisa me dizia que sim. E que iria dar certo, que teria futuro, e que se não tivesse, já estava feliz que era presente. Um presente. Meu presente.

A caixa

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E quando der meia-noite, por uma brecha entre o barulho dos fogos, os telefones irão tocar. Pessoas que estão (por algum motivo) distantes irão desejar coisas boas. O poder de um dia que acaba. E enquanto lágrimas sem sentido caem: misturadas com o champanhe barato: iremos retirar de fundo do armário a caixa prateada com os dizeres "Para o ano que nasce" em letra caprichada de caligrafia. E de lá tiraremos as grandes e as pequenas promessas. Ponderaremos aquilo que foi conquistado. Tiraremos o pó daquelas que não realizamos para que sejam renovadas. Desistiremos de outras. Mas teremos orgulho daquelas pequeninas, e belas, promessas que foram cumpridas. Estas são as que colaremos na roupa e com elas bailaremos - esperançosos - com a coisa viva que renasce nesse novo dia. É que ainda é primeiro de janeiro. E os corações batucam com fé. É que o ser humano tem esse dom - ancestral - de saber quando recomeçar. Caio Augusto Leite