Abaixo às promessas não cumpridas!
Eu já havia
jurado, feito promessa para a Virgem Maria, São José, os arcanjos e outros santos
que não mais iria me apaixonar com uma conversa boba e um sorriso de canto de
boca. Eu tinha, inclusive, escrito na minha caderneta de telefones, que fica no
criado mudo perto da minha cama, inúmeras vezes e em letras maiúsculas o
seguinte mantra: NÃO DEVO ME APAIXONAR E/ OU ME ENCANTAR FACILMENTE POR ALGUÉM, como
criança de fundamental que precisa internalizar as regras da escola, eu tentava
lembrar de meus próprios juramentos, mas não conseguia.
Sabe aquela velha
história de que promessas, às vezes, são feitas para não serem cumpridas. Eu sou
a prova ambulante deste adágio popular. Eu simplesmente não consegui sustentar em mim o
juramento outrora feito e me deixei levar pelo sorriso de canto de boca e a conversa
desenrolada e sincera. E fiquei ali, absorta, rindo das covinhas no rosto quando
ele sorria, dos pequenos poros dilatados de uma adolescência cheia de espinhas
e das cantadas tolas e sem nexo. E mais tarde me vi alucinadamente louca,
cruzando os nossos signos em um mapa astral inventado e descobrindo coisas em
comum e avaliando estatisticamente as possibilidades de nós ficarmos juntos num futuro que poderia ser daquele instante a duas horas (ou menos).
E quando
recobrei a realidade vi que em apenas um beijo, ou mais que isso, eu perdi completamente a
sanidade mental e me tornei uma adolescente imbecil daquelas que sofrem os
maiores dilemas de amor em um romance puramente platônico. Então, decidi pensar: isso é
bom? É. Então f*da-se essa p*rra de sociedade que diz que por eu ser uma quase balzaquiana,
não posso fazer de meus romances (ainda que fantasiados) um drama teen.
De hoje em diante, f*da-se também as promessas. Acabo de crer que nunca as
cumpro.
Júlia Siqueira
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