Eu sou o sol
Ele controlava meus caminhos, ele ditava meus passos, pé
ante pé era vigiada pelos olhos mais argutos. Respirava o ar que me era
destinado, rarefeito, sujo, cheio do hálito fétido do esgoto de vida que
levava. Estava no limbo, vegetava, mas o amava. Amava ou havia desenvolvido
Estocolmo? Não sei. Minha vida era uma página escrita por mãos alheias, meus
desejos eram do alheio antes de serem meus. Memórias eram quadros envelhecidos
numa parede cheia de teias e bolor. E eu... ah eu era distante de mim, e sabia disso. Era (pretérito imperfeito)...
Hoje? Hoje sou presente! Libertei-me do cárcere que me prendia. Ele, porém, ainda irradia, contraditoriamente mexe com meus sentidos mais profundos e profanos, mas não é mais o
verão que me aquece nos dias de frio, nem molha mais meus lençóis, nem cuida
minuciosamente de minha vida. Ele continua brilhar como vagalume pronto pra recolher sua
presa no cupinzeiro. E eu... Ah, eu hoje sou o sol.
Júlia Siqueira
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