Ausências?
Falando dia desses com uma amiga psicóloga, ela disse que quem escreve
se expressa muitas vezes melhor do que quem faz análise. Talvez seja a escrita
uma forma de análise na qual não pagamos ao terapeuta no final exigindo a
notinha para que abatamos no imposto de renda. A escrita fala tanto de nós que
talvez nem saibamos mensurar quanto.
Hoje minha análise é sobre ausências e como ela nos afeta como um soco
inesperado no estômago. A gente não nasceu, definitivamente para sermos sós.
Não nos ensinaram em nenhum lugar ou nos prepararam para que estivéssemos
sozinhos em algum momento. Já adianto que não falarei de solidão e ser
solitário e aquele velho discurso de que um não quer dizer o mesmo que o outro,
coisa que já estamos carecas de saber.
Falo de estar só, sem referências para o mundo, em um lugar em que as
pessoas se preocupam tanto com seus salários e seus ganhos que se matam de
trabalhar a ponto de não estabelecerem com outro qualquer tipo de relação por
mais simples que seja. Pessoas que marcam de sair para tomar um chopp e não se encontram afinal, pois
estão encobertas em uma névoa de mistério e/ou acham que sua saída precisa ser
um acontecimento digno de parecer em sites do segmento artístico. Vidas
pautadas em uma rotina fechada e argumentos vazios, além de desculpas
esfarrapadas. Não quero aprender isso. Me nego a viver desse jeito, mas a
influência é tão grande que por vezes me pego fazendo igual. Seria vírus
pós-moderno que nos controla a tal ponto de não nos permitir mais viver? Ou
estou sendo muito apreciador de teorias de conspiração e ficção científica?
Perguntas a parte, sinto falta de pessoas que surpreendam, que tenham
tempo de contemplar a vida, agradecer a existência e saber jogar conversa fora
quando necessário. A rir de si e suas desgraças e entender que elas são uma
ótima oportunidade de melhorarmos, a viver sem a pressa de ter e acumular
coisas e quinquilharias dentro dos armários de casa e dentro de si, coisas que
nunca usarão e ocupam um espaço imenso.
Quando a gente escreve põe coisas que nem imaginamos para fora, sim, é verdade. Talvez seja seu
corpo dizendo que é necessário esvaziar-se e não sentir tamanha ausência
daquilo que nunca foi presente. É dar a oportunidade jogando entulhos, a gente possa se encher de nós e
entender que ainda que muitas vezes esse vazio é a falta de entendimento de que não precisamos muito do outro para fazermos coisas que nos façam feliz. Que um dia aprendamos, quem sabe...
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