Nada será como antes


Lembro-me do ano passado. Rápido, porém, intenso. Quantas coisas couberam naqueles três meses. Pude sentir a alegria das férias e o Carnaval. Contato, amor, beijo, festa, sorrisos. Trabalhamos também, eu lembro de pegar meu caderninho, aquele que eu mesmo fiz com folhas usadas amarradas por uma cordinha de sisal, e ali planejei um ano brilhante de trabalho. Estava feliz e planejava conhecer lugares maravilhosos. Tudo estava tão bem que parecia prenunciar os dias cinzas que viriam depois, como quando em meio ao sol de verão arma uma chuva inesperada.
Então, o prelúdio do fim. Não poderíamos mais tocar as pessoas que amamos, não deveríamos mais sair de nossas casas, nos tornaríamos obcecados por limpeza e trabalhos remotos. E os planos, todos jogados numa grande fogueira. O máximo que poderemos fazer nestes dias que se acumulam sem a noção exata de um tempo é e nos manter vivos, embora pouca coisa tenha sido explicada a respeito de como viver. Então, gritei da minha sacada: -  Feliz futuro, feliz mundo novo, feliz vida nova! – mesmo não existindo um só traço de felicidade em minhas palavras.
Nada será como antes, disse Elis numa canção. Profecia, talvez. Só temos a certeza dessa frase. 





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