Acaso

Enquanto eu vejo a “minha” novela, você se vira para o lado da cama e lê Saramago. Enquanto eu leio os horóscopos nos sites de notícia, você tenta entender a má gestão do lixo nos municípios brasileiros. Enquanto eu “mato” um hambúrguer gigantesco para aplacar minha fome sem fim, você pede uma salada simples e me diz que come para sobreviver. Eu com minha rapidez e aceleração de sempre e você em sua calmaria caymminiana sem fim. Eu de humanas, você de exatas. Nada a ver. Tudo a ver.
Afinados, passamos horas discutindo arte impressionista enquanto ao fundo toca Calcanhotto. De longe, dois seres estranhos. De perto, duas criaturas que, mesmo sem ter muito a ver,  decidiram se unir, num desses abalos cósmicos da vida que eu chamaria de destino ou carma e você, humildemente chamaria de acaso. 

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