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Mostrando postagens de 2016

Eu sou o sol

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Ele controlava meus caminhos, ele ditava meus passos, pé ante pé era vigiada pelos olhos mais argutos. Respirava o ar que me era destinado, rarefeito, sujo, cheio do hálito fétido do esgoto de vida que levava. Estava no limbo, vegetava, mas o amava. Amava ou havia desenvolvido Estocolmo? Não sei. Minha vida era uma página escrita por mãos alheias, meus desejos eram do alheio antes de serem meus. Memórias eram quadros envelhecidos numa parede cheia de teias e bolor. E eu... ah eu era distante de mim, e sabia disso. Era (pretérito imperfeito)... Hoje? Hoje sou presente! Libertei-me do cárcere que me prendia. Ele, porém, ainda irradia, contraditoriamente mexe com meus sentidos mais profundos e profanos, mas não é mais o verão que me aquece nos dias de frio, nem molha mais meus lençóis, nem cuida minuciosamente de minha vida. Ele continua brilhar como vagalume pronto pra recolher sua presa no cupinzeiro. E eu... Ah, eu hoje sou o sol. Júlia Siqueira

Cicatriz

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"[...] nunca conheci uma única pessoa que não traga no coração uma dor em carne viva, um pranto que ainda escoa em silêncio ou uma cicatriz para sempre falante. O que varia é a maneira que cada um de nós escolhe para lidar com isso a cada instante que o tempo desembrulha. Um jeito é, ainda assim, investir na vida; outro, é investir na morte. Um jeito é, por causa de tudo, alimentar mais o medo; outro, é apesar de tudo, alimentar mais o amor. Nenhum deles é fácil, mas a textura de cada caminho é diferente". Ana Jácomo

Tantos aviões ainda caem...

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Todas as vezes que nos deparamos com uma situação como a da tragédia com os jogadores do Chapecoense, vemos quanto as nossas vidas são efêmeras, fluídas e estão longe do nosso alcance. Mas saindo do clichê de consternação e tristeza coletiva, na qual mergulhamos nos últimos dias, fico me perguntando sobre quantos aviões caem em forma de filas imensas em hospitais sucateados Brasil afora? Quantas crianças abandonadas nas ruas são enxotadas de calçadas de grandes prédios por pessoas que querem criminalizar o aborto? Penso, ainda, nos aviões que caem a cada tiro de bala perdida recebida por um pai de família que saía para trabalhar para, assim, trazer o sustento de seu lar.  Mas tais coisas se tornaram tão corriqueiras que passam a ser banais, de modo, que apenas em momentos terrivelmente trágicos aquela centelha de humanidade que ainda nos resta consiga colocar-se pra fora. Sonho, todos os dias, com uma vida mais humana para todos nós, um momento que o nosso afeto seja diário e não

O ano que ainda não acabou...

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Em janeiro tínhamos o desejo de que as coisas melhorassem e que não ficássemos presos numa continuação tão ruim quanto o ano anterior, alimentando hora após hora, minuto a minuto, essa certeza em nossos corações. Mas não foi assim. Tivemos a forte certeza, com o passar dos meses, de que o que já era péssimo, conseguiria uma forma ficar pior. Racismo, intolerância religiosa, violência, bipolarização política, desigualdades, mortes, doenças, choro de mães que viram seus filhos morrerem em sua frente, corações dilacerados por ter que procurar refúgio em países que não os aceitam. O mundo mostrou sua pior face, como se estivesse cansado de exaustivamente maquiar o seu verdadeiro eu. Talvez eu esteja sendo muito pessimista. Sim, de fato, aconteceram coisas boas e tivemos bons momentos. Mas os tivemos apenas como paliativo de nossas próprias misérias. As coisas poderiam ter sido melhores, acredito, se as nossas esperanças não ficassem apenas atreladas as nossas esperas. Esperar que o ou

E eu que nunca achei que iria realmente casar...

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Sim, eu realmente pensei que nunca chegaria esse dia. Acreditei, por vezes, que isso já não fosse mais possível, mesmo com vinte e poucos anos. Mas aí você que me lê talvez pergunte: nenhum dia de sua vida chegou ao menos fantasiar essa possibilidade? Nunca pensou realmente em seu próprio casamento? Ah, isso sim! Flores do campo colocadas com esmero em todo o ambiente que seria, é claro, um grande hotel fazenda que pagaria até o resto de minhas vidas terrestres, todos os convidados devidamente vestidos de branco (não é um casamento candomblecista, mas poderia até ser, pois não acho que Deus seja católico, apostólico e romano, Ele não seria tão chato de ser exclusivista assim), violinos tocariam a marcha nupcial - uma música brega de Diana (diva dos anos 1970) – meus pais se debulhando em lágrimas (de alegria obviamente, pois eu consegui o feito de alguém finalmente me aceitar e me querer! MÃE, FIZ MEU NOME!), meus amigos felizes e preocupados, afinal nossos próximos passos serão bat

Curto ensaio sobre a vida...

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Somos sementes. Caídas no chão, brotamos, buscamos aprofundar nossas raízes para depois fortalecer as nossas estruturas. Mudamos como as estações mudam. Somos invernos, somos verões, podemos sorrir na primavera e sermos austeras no outono. Parimos sementes que o vento insiste em carregar para longe de nós. Damos sombras para piqueniques, oferecemos nossa casca para apaixonados escreverem seus nomes entrelaçados e emprestamos nossos galhos para acolher pessoas e animais brincarem. Envelhecemos. Trocamos as nossas cascas, agora nosso caule aparenta ser mais grosso que outrora, tamanhas as cicatrizes colecionadas com o passar dos anos. Daqui  um tempo morrerei, alimentarei animais com o meu tronco apodrecido, mas continuarei vivendo na vida das sementes eu pari, como coadjuvante das fotos onde vivi, nos casamentos que vi nascer como simples romance adolescente. Serei uma lembrança nos corações de quem, de mim, lembrar. Somos sementes e somos eternas. 

Emergir

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Passamos a vida inteira tentando nos encaixar em padrões. Para as mulheres o velho clichê namorar-casar-ter filhos-ser dona de casa, para os homens o namorar-casar-trabalhar-ser bem sucedido. Acrescente a esses modelos de vida perfeita a barriga sarada, a alimentação saudável, o caráter ilibado, o carro do ano, o apartamento com vista para o mar e planejado por um arquiteto famoso, as viagens internacionais, a vida típica de um comercial de margarina. Balela! E das grandes, das mais ridículas. Talvez a gente não queira casar e ter filhos e, sim, priorizar a carreira brilhante que vislumbra pra um futuro próximo ou talvez não queira o carro ou apartamento luxuoso e sim em morar em uma espelunca adornada com coisas garimpadas em brechós e andar de ônibus ou de bicicleta ou simplesmente fazer tudo a pé, sem a necessidade de mostrar para os outros um estilo novelístico de felicidade. A gente quer viajar pra lugares exóticos e não os da moda, comer por vontade (ou por gula), cometer os

Orgulhe-se.

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Dias desses uma colega de trabalho me disse que eu era lindo e virou para todos na sala como se precisasse de aprovação com um “não é, gente?!”. Eu ruborizei de imediato e proferi a famosa desculpa de quem adora fugir de elogios e quer soar modesto: O que é isso?! São seus olhos. E ela de um jeito simples, mas enérgico, disse que pessoas que agem assim estão desprezando as constatações do outro e que eu deveria apenas me sentir lisonjeado porque ela falava a verdade, que ela não está errada em dizer isso. Calei-me. Dias depois, alguns colegas elogiaram bastante uma atividade que fiz na escola em que trabalho e eu mais uma vez de maneira modesta (e idiota) repeti o que já havia dito anteriormente. O que faz com que nós, por vezes, não acolhamos o fato de sermos incríveis no que fazemos ou o jeito que somos? Medo de sentirmos que estamos inferiorizando alguém? Medo de sabermos por outra pessoa que o nosso trabalho ou a nossa forma de ser é tão maravilhosa que nos torna diferente? Re

Quando é necessário calar...

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Aquariano tem essa coisa de querer mudar o mundo, de lutar por uma causa e de se rebelar contra as disparidades do mundo. Eu não fugiria à regra, nem que quisesse. Tenho isso em meu DNA, mas ultimamente tenho preferido calar-me por uma simples razão: não irei consertar o mundo. Minha terapeuta travou durante meses uma batalha hercúlea comigo nesse sentido, pois eu simplesmente achava que as coisas deveriam tomar outro sentido, que coisas irrelevantes deveriam ser passadas por cima para que coisas melhores fossem vistas, pontos de maior intensidade pudessem ser discutidos no trabalho e na vida e para que as coisas fluíssem de uma maneira melhor. E ela calmamente me trazia de volta à realidade com um simples “você não pode e nem vai consertar o mundo sozinho”. Hoje, tenho plena convicção que aquelas palavras que, para mim, antes soava como um desafio e uma certeza de que EU SOZINHO SOU CAPAZ DE MUDAR O MUNDO, são uma certeza de que muitas vezes é melhor ficar quieto e observar os ru

O ano do sim!

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Eu precisava escrever sobre isso. Sim, de qualquer maneira eu precisava escrever. Há alguns dias saiu a versão e-book do livro da Shonda Rhimes “O ano em que disse sim”. Mesmo sendo adepto do “eu espero para ler o livro de graça”, me vi impelido à compra. E o fiz. Passado dois dias e metade de uma madrugada em claro, eu o finalizei. O que continha nas páginas do livro da criadora de minhas séries favoritas? Apenas aquela verdade clichê dita de maneira cruel e simples. É necessário dizer sim! O dizer sim para as coisas não quer dizer que tenhamos que ser um pateta que aceitar tudo e qualquer coisa, mas significa acolher as oportunidades que a vida lhe dá, das quais facilmente inventaria uma desculpa digna de ganhar um Oscar de melhor roteiro. Sair do quadrado da zona de conforto (cama, TV, internet e pessoas próximas) é a coisa mais difícil a ser feita, tão complicado que poderia ser comparado aos exercícios de uma aula de ioga. Decidi então, mesmo contrariando o meu quadrado de

Saindo de si...

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Ao olhar determinadas fotos antigas a gente se depara o quanto a gente mudou e o quanto as coisas também se modificaram ao nosso redor. Os amigos de outrora são apenas meros conhecidos de uma época remota. O nosso gosto mudou, as nossas influências também. O menino calado que tirava foto sério deu lugar a um homem que adora mostrar o sorriso, mesmo em momentos difíceis. A mudança é um fator biológico que nos move, mesmo que a gente não perceba isso com clareza. Mudar é preciso. Mudar-se de si é necessário. 

Decisão

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Disseram-me ainda muito pequeno que a vida é feita de decisões e elas qualificam aquilo que você é ou vai vir tornar a ser. De qualquer forma eu não estaria isento delas. Uma hora teria que decidir o que comer ou vestir, qual profissão seguir, o que deveria fazer ou deixar de fazer. Decisão. Três sílabas, sete palavras e uma confusão em minha mente. Colocar linhas de chegada, uma após outra ou me lançar nos braços do vazio? Na primeira tenho a opção de me encarcerar dentro de mim, já na segunda de me aventurar rumo ao desconhecido. Jogar a precaução de lado e subir o montanha para ver o sol se pôr ou deixar de ver este espetáculo natural? Eis a questão. 

Despedidas

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Vai chegar o dia em que saudade não estará mais em meu dicionário. Em que os “adeus” nos aeroportos e rodoviárias serão substituídos por um até logo e uma certeza de retorno. 

Bad Days

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Não adianta calcular tantas coisas, mensurar datas, ideias, lugares, pessoas, fazer estatísticas, pensar e repensar, a vida é surpreendente. Você não conhece nada dela, nem eu. A vida é um mistério e é necessário que seja assim. Imagina se nós soubéssemos como as coisas seriam, se fossemos capazes de entender os mistérios escondidos nas misérias e tristezas que temos que atravessar?! Uma merda. Tentaríamos adiar aquilo que nos ajudaria a sair das fraldas e enfrentar esse gigante de peito aberto, aplacaríamos qualquer possível dor com remédios fortíssimos capazes de nos tirar a consciência, um caos se instalaria, pois estaríamos mimados demais para entender que a coisas nem sempre são como planejamos e que a dor é necessária para que algo bom chegue até nós. Bad day? Sempre teremos um.  

Qualquer coisa...

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Dançamos com a ansiedade porque não saberíamos o que fazer parados. Apressamos o tempo para sairmos do lugar onde estamos. Incomoda-nos demais não fazer, não esperar, não beber, não comer, não assistir, não dormir, não ler, não escrever, não sair, não aparecer, não "qualquer coisa". Ocupamo-nos de todos os jeitos para nos distrairmos de nós mesmos. Se conseguíssemos por um breve instante parar, o que ouviríamos se nos déssemos ouvidos? O que enxergaríamos se nos permitíssemos ver? Guilherme, do blog A ilha de um homem só

Um dia desses...

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Um dia desses, daqueles que a gente não dá nada de tão normal que é, você vai se pegar pensando em construir uma carreira diversificada com cursos estapafúrdios, viajar o mundo com uma mochila e dez peças de roupa, em ir num festival de música popular ou uma feira literária e sair todos os finais de semana (e dias de semana também). E é nesse dia sem muitas novidades que o amor decide te fisgar e lhe revirar do avesso. As viagens acontecerão com uma companhia e muitas peças de roupa, a carreira vai se solidificar, os festivais darão lugar a teatros e concertos, barzinhos e restaurantes, os finais de semana não serão tão intensos como imaginara, mas mesmo com toda essa reviravolta o seu coração vai estar feliz e em paz. E isso basta.

Humanos?

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Tornamo-nos tão intolerantes nos últimos anos. Conosco, com os outros com a vida. As últimas notícias demonstram isso. Não toleramos a posição política, a religião, a forma de viver e de pensar. Tudo precisa (e deve) estar de acordo com minhas convicções pessoais. Não se escuta mais ninguém, não se congrega ou compartilha ideias, não se aceita mais críticas. É claro que não excluo aqui que nossos contemporâneos não entendem mais a diferença de opinar e ofender, mas antes disso criamos um escudo, uma couraça impenetrável que nos impede de tocar a alma do outro, ficando mais na defensiva que qualquer outra coisa, uma vida patológica, diga-se de passagem. O “colocar-se no lugar do outro” perdeu o sentido. As pessoas buscam meios de ganhar a vida e acabam perdê-la nesse masoquismo suicida do ter. Perdemos o tino, o tato, o paladar da vida. Perdemos o gosto de viver e nos tornamos essa raça que de humana não tem mais nada. 

Sobre viver e mudar

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O homem primitivo era aventureiro. Nômade, ele buscava melhores condições de vida em lugares inusitados, e dessa necessidade ele atingiu lugares nunca imaginados, ocupando a vasta extensão territorial da Terra. Mas esse homem antes desbravador começou a ficar preguiçoso (sedentário seria a palavra mais correta), a agricultura e a criação de animais o havia deixado estável, não precisando mais correr riscos e percorrer grandes distâncias para que a sua fome fosse resolvida. Então ele viu que deveria viver sua vida para o amanhã, pensando num futuro que por vezes não viria, investindo em construir um império seguro diante de si, mesmo aqueles mais miseráveis pensavam no porvir. Mas que é que nos dá segurança? Um emprego estável, pessoas em quem confiar, um imóvel quitado e um carro com prestações prestes a serem pagas, um plano de saúde e um seguro de vida caríssimo? Essa é a nossa meta de vida? Ficar no esquema trabalho – estabilidade – salário – trabalho? Planejar um futuro do qua

Positive-se

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Cante bem alto para expulsar os seus fantasmas. Dance para eliminar a poeira que insiste em acumular-se perto de você. Ria até que lágrimas corram aos seus olhos, lágrimas de alegria, de esplendor, de felicidade. Livre-se de todos os que praguejam e se fecham em suas misérias. Agregue ao seu lado as pessoas que falam de si, das suas vivências, de suas perspectivas para o futuro. Trabalhe com afinco. Não há fórmula para a felicidade, mas há muitos jeitos de ser feliz.

Futuro

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Passamos a vida inteira nos preocupando com o amanhã. Ao deitar, traçamos metas e planos para o dia seguinte, planejamos viagens para meses depois, visualizamos sonhos de anos adiante. Gastamos dinheiro com cartomantes e mapas astrais na tentativa de prever o que vai acontecer conosco no desconhecido, como se descobrindo as coisas mudariam. O futuro, esse senhor das incertezas, é onde reside os nossos medos, mas também onde moram as nossas esperanças. E quando esperamos podemos ver que as coisas podem se revelar melhores do que acreditamos ser. Ou não.

Narciso

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Eu vivi ou vivo? Não sei... Eu reclamo todos os dias de minha vida e me prostro esperando uma intervenção divina sobre ela (mesmo não crendo em Deus). Um trabalho melhor, pessoas que sejam minhas amigas, dinheiro suficiente para não me lamentar pelos cantos e uma droga qualquer que me faça ter lapsos de alegria. Eu vivo? Não sei. Estou vivo, acredito. Eu amei. Uma, duas, dez. Em cinco dias amei três pessoas, mas elas não correspondiam aos meus interesses. Depois da conquista fiquei entediado e perdi o interesse. Mas quero me relacionar, preciso, ainda que eu saiba que vá existir uma frustração ou outra por conta do meu temperamento narcisista não declarado. Eu preciso de alguém... Alguém que preencha e atenda todos os meus pré-requisitos mal formulados. Eu sou autossuficiente. Ergui muros diante de mim que me blindam contra o mal, maldigo, mas não tolero que falem de mim. Sou o bastante, mesmo que em mim haja a necessidade de aplausos e aprovações, elogios e concordâncias, afina

Ces't a fini.

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Cenário: Festa de fim de ano de uma empresa qualquer. Texto: - Um brinde à falsidade de vocês. Personagem: Eu. Ainda vou viver tempo suficiente para numa festa de fim de ano de empresa eu levantar taças e brindar contra a hipocrisia reinante, como no trecho acima. Em festas assim, todo mundo se ama e esquecem-se as brigas infindas e os moralismos travestidos de maldade. Sim, o ambiente trabalhista poderia ser facilmente confundido com um serpentário, no que deixaria o Butantã envergonhado. É um desfile de cobras das mais variadas espécies e tamanhos, umas com venenos potentes outras que apenas amedrontam. São pessoas querendo se dar bem em cima da ingenuidade alheia ou que escondem sua mediocridade em quedas de sistemas falhos ou colocando a culpa no bode expiatório da vez. Vivemos na sociedade dos espetáculos (ruins, por sinal) e da hipocrisia. As pessoas mentem, maldizem, ferem e depois dramatizam numa teatralidade digna de um Oscar e dois Emmy’s, colocando Deus no meio de

A saudade que eu gosto de ter...

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A saudade que eu gosto de ter tem um nome, sobrenome, profissão, olhos curiosos, bobagens na bagagem e um coração que cabe um mundo inteiro. Tem os sonhos mais estapafúrdios, as ideias mais mirabolantes e os beijos mais delicados e amorosos. Tem um gosto artístico ora erudito ora brega, tem um sorriso contagiante e uma alegria que transborda. Contudo possui também, os olhos perdidos, a mente atribulada, a irritação típica de quem nasce sob a regência de Libra. A saudade que eu gosto de ter podia estar em um livro de fábulas infantis, mas tá pichado num muro de uma cidade qualquer ou num verso perdido de Leminski. Poderia ser fantasia, mas é realidade. 

Sobre trouxas que não são de roupas...

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Engraçado como as palavras da língua portuguesa podem possuir definições diversas. Até pouco tempo, por exemplo, trouxa significava, pelo menos pra mim, um amontoado de roupas, hoje, porém, se modernizou e transformou-se em um adjetivo chamado “trouxiane”. Há alguns dias, me pediram para escrever sobre isso, sobre como é ser trouxa nos relacionamentos. Sim, me pediram um conselho em forma de texto, logo a mim que sempre por vezes tenho os melhores ensinamentos pros outros e as piores ações pra vida. Mas vamos lá. Fazendo uma análise pessoal (cara, por sinal), com o tempo nós vamos dando conta que passamos a vida inteira querendo ser aceito por alguém. Pais, amigos, professores, colegas de trabalho, ser querido se tornou uma necessidade, um sinal de que você possui adjetivos suficientes para que seja amado pelos outros. E o pior é que a gente passa a vida querendo possuir justamente essas qualidades para agradar outra pessoa, que com o tempo eles se tornam totalmente dispensáveis.

Ser da Terra

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Eu sou terrena, me condene por isso. Sou daquelas que amam os prazeres de viver nessa Terra cheia de problemas e não num céu de virtudes e belezas. Cara, a terra é uma merda maravilhosa. Tem o rock, tem vinho, tem vodca barata, tem arte, tem sexo, tem sono, tem hambúrguer e Coca-Cola, num combo feito pra gente morrer de ataque cardíaco no meio de um trânsito caótico. Viver é massa. Viver o agora é melhor ainda.  Tenho nojinho daquelas pessoas que perdem o tempo em uma vida devotada para um futuro distante e não vivem a porra do agora. Fazem planos de casas de varanda e carros que nunca terão, trabalham feito louco para deixar um trocado pra filhos miseráveis que não cuidarão destes e os colocarão no primeiro asilo quando assim surgir oportunidade, não se aventura por não ter plano de saúde capaz de cobrir o estrago. Gosto de gente que faz tudo o que lhe dá vontade, não reclama da merda de vida que leva porque sabe que as coisas melhorarão um dia, mesmo que esse dia nunca chegue, g

Sinceridade?

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Hoje falar abertamente o que se pensa é sinal de ofensa, não porque as pessoas ficaram melindrosas demais, mas sim porque se acredita que sinceridade é sinônimo de ofensa. Ser polido no que se fala e, assim, expor seu ponto de vista sobre alguma coisa é uma totalmente diferente de vociferar aquilo que acredita por cima de gritos e palavras de baixo calão. Não ficamos cheios de dedos, nos tornamos arrogantes, achando que a forma que a gente pensa é o certo e por isso deve ser aceito pela maioria. E quando isso não acontece apelamos de maneira baixa e rasa dizendo que sofremos preconceito. Chega a ser cômica, para não dizermos trágica, a forma como tratamos o preconceito na atualidade, colocando qualquer discordância mínima como um problema de ordem pessoal e social, que nos denigre, avilta e destrói. Antigamente as pessoas sofriam em condições muito piores que hoje e nem por isso vitimavam-se, muito pelo contrário, fazia disso escada para melhorarem sua vida. Como foi que chegamo

Amor e paixão

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Tem gente que acredita que amar é uma coisa diferente de se apaixonar. A paixão é fogo, brasa que queima os corpos que se unem com excitação, palavras ditas no ouvido, carinhos intensos e constantes, a constante inovação. Amor, ah... O amor é outra coisa, certo? Errado. Engana-se aquele que acredita que o amor não pode ser efusivo, que o amor é calmo como um mar sem ondas, que amando você não sente as mesmas vontades, mas acerta-se quanto à diferença da paixão. Quem ama entende que você não precisa dizer eu te amo sempre, incansavelmente, em momentos diversos. Quem ama o faz com o olhar, numa noite de sono da pessoa amada ou num simples gesto cotidiano. Quem ama acha que o ciúme é um acessório e não uma roupa, deve senti-lo, mas não deve vive-lo, pois é criado paranoias e faz-se existir histórias estapafúrdias. Quem ama aceita você do jeito que é, mas quem é apaixonado quer mudar algo do outro, quer fazer vive-lo conforme aquilo que se acredita. Sim, amar é diferente de apaixona

Esperas...

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Eu fico por vezes querendo adivinhar seus silêncios, mas é tudo tão incerto que só ouço o cricrilar dos grilos. O que pensa? O que quer? O que sente? (Pausa). Não devo falar, perguntar talvez? Não. Há dor, há saudade, há tristeza... Eu sei... Quanto a mim, tenho vontade de arrancar tudo isso de ti e sofrer sozinho suas incertezas, suas mágoas, sua dor, mas não posso, tenho as minhas próprias dores, dores de alma, dores de distâncias, ausências de você. Então me calo, espero. As esperas são as certezas dos que amam. Eu espero que tudo se acalme. Me espera? Chego já!

Viajar é mudar a roupa da alma.

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Lembro-me de minha primeira viagem. Mãos suando, coração a mil, ansiedade a flor da pele. Eram poucos quilômetros, mas isso não importava, era a oportunidade de ver as coisas sobre outro prisma. Os anos passaram, a quilometragem mudou, agora lugares mais distantes e culturas e hábitos cada vez mais diferentes, meu coração, entretanto, ainda acelera, o nervosismo ainda acontece de maneira igual. Viajar é dar umas férias a alma, é uma oportunidade de sair do rotineiro e dar asas ao viver.  Sinto a cada dia que a minha alma é do mundo e meu coração não tem país.

O que nos falta...

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Não é amor o que nos falta, não. Toda gente tem amor, esse sol que é sempre sol, é da natureza dele ser assim. O que varia, como variam os instantes, é a quantidade de camadas de nuvens de confusão, de ignorância, de raiva, de medo, que o encobrem. Tem vez até que acinzentam o céu todinho pra depois fazer a vida chover torrenciais embaraços. Tudo bem, chuva sempre passa, tempestade que seja. Não é amor o que nos falta, não. O que, muitas vezes, nos falta é soltura. É expressão. É desarme. É poder dançar com a vida sem passo marcado. É parar de dar trela pra bobagem. É desacreditar que somos especialistas em afeto. É parar de julgar. É parar de encher barriga de dor. É mudar a faixa do CD que canta o passado com drama.É escolher deixar de chorar pelo sofrimento vivido em 1815. É levar luz pra conversar com a sombra e deixar que as duas se entendam e se tornem amigas. É a ousadia de descolar o umbigo de qualquer orgulho, arrogância e redondezas. Não é amor o que nos falta, não. O