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Mostrando postagens de setembro, 2020

Acostuma-se

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Acostuma-se ao barulho dos cachorros do vizinho que latem todas as noites para os transeuntes noturnos. Acostuma-se ao mau cheiro do ralo da área de serviço. Acostuma-se com os barulhos dos vizinhos em noites de quarta-feira. Acostuma-se a se sentar às sete para assistir o noticiário local na TV. Acostuma-se com as faxinas nas sextas e o lavar de roupas aos sábados. Acostuma-se com o próprio tempero e com o arroz que vez ou outra se queima.  Acostuma-se tanto com a paz reencontrada. Acostuma-se a viver numa guerra que não se vê o fim. Acostuma-se ao silêncio das manhãs de domingo. Acostuma-se a ser só. Acostuma-se a estar só. Acostuma-se.

Terapia

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Hoje não liguei para a economia dos recursos hídricos do planeta e entrei no chuveiro deixando que a água escorresse demoradamente por cada parte do meu corpo, assim como nos filmes, em que os banhos arrastados geralmente vêm acompanhados de flashs sobre a vida, a razão das coisas ou quais caminhos devem ser tomados pelo protagonista. Mas ali não existia direção de arte e a cena não era conduzida por Almodóvar. Era somente eu com os meus pensamentos deixando que a água fluísse e os pensamentos buscassem suas conexões. A cada jato de força do chuveiro e em cada gota milhões de possibilidades e milhares de subjuntivos. Foi um encontro pessoal comigo, desses encontros que a gente detesta ter porque é a nossa consciência discutindo conosco e não há possibilidade de colocar a culpa em ninguém, como de costume, pois o culpado está ali dentro e não fora, olhando com a cara de espanto para o fluxo maluco das ações e palavras. É quando a gente conversa conosco e entende que as coisas dependem