Terapia

Hoje não liguei para a economia dos recursos hídricos do planeta e entrei no chuveiro deixando que a água escorresse demoradamente por cada parte do meu corpo, assim como nos filmes, em que os banhos arrastados geralmente vêm acompanhados de flashs sobre a vida, a razão das coisas ou quais caminhos devem ser tomados pelo protagonista. Mas ali não existia direção de arte e a cena não era conduzida por Almodóvar. Era somente eu com os meus pensamentos deixando que a água fluísse e os pensamentos buscassem suas conexões. A cada jato de força do chuveiro e em cada gota milhões de possibilidades e milhares de subjuntivos.

Foi um encontro pessoal comigo, desses encontros que a gente detesta ter porque é a nossa consciência discutindo conosco e não há possibilidade de colocar a culpa em ninguém, como de costume, pois o culpado está ali dentro e não fora, olhando com a cara de espanto para o fluxo maluco das ações e palavras. É quando a gente conversa conosco e entende que as coisas dependem exclusivamente da nossa força de vontade de sair de si e se jogar para o nada, para o vazio e para o além.

Desliguei o chuveiro e saí do banheiro, acabava ali a sessão de terapia do dia. Pensar é de uma dor grandiosa.

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