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Mostrando postagens de 2019

Re (nascer)

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Nasço hoje. Renasço amanhã. E numa constante, a Mãe Terra me pare para o mundo, de modo que saio de seu ventre todos os dias, às 00:45, para relembrar o meu primeiro nascimento e primeiro choro nessa vida presente. E desde então eu me projeto diariamente num parto eterno para que constantemente eu seja diferente. Hoje renascerei diferente de ontem e amanhã serei melhor que hoje. Penso em cada dia como uma oportunidade de mudar. Mudanças são um presente. Difícil presente da vida.

O preço da liberdade

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Um dia desses eu quis ser livre, sabe?! Li-ber-da-de! Assim, separando as sílabas e com exclamação no final para que a entonação fique impositiva, de ordem. Banho de mar pelado num domingo em Copacabana, pôr do sol no Arpoador em plena terça, cerveja gelada com frango à passarinha na muretinha da Urca. Contemplação. Paz. Liberdade, para mim, estava no poder fazer pequenas coisas, mas para mim também estava em não depender da opinião alheia, da forma como o outro me idealiza. Queria planejar uma viagem para o leste europeu, passagem só de ida, sem a possibilidade remota de ficar checando horários, contabilizando datas e sem a preocupação de qual país estou. Afinal isso aqui é a Bósnia ou a Lituânia? Queria e quero tantas coisas, mas por hora quero ser livre. Livre para poder encontrar meu lugar ao sol e quebrar a cara com minhas escolhas. Sentir o peso de minhas responsabilidades batendo na minha cabeça, mas sem alguém para me avisar que eu deveria ter realizado a reunião com o

Ode à Arnaldo Antunes

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Preciso sentir.  Carne exposta, dor, vulnerabilidade.  Sentimentos, sabe?  Ando muito anestesiada com a rotina diária que tem se resumido a levantar e trabalhar, olhar os memes durante os intervalos do trabalho, almoçar sozinha a comida que trago de casa, olhando o relógio para não perder a batida do ponto, nova rodada de trabalho, vivendo entre o sono e a vontade de não produzir mais nada depois que comi, então me drogo com porções cavalares de cafeína que me manterá acordada até altas horas da madrugada e das quais irei me arrepender depois. Tudo isso, cinco vezes na semana. Sábado encho a cara com amigos que falam apenas de trabalho, relacionamentos e frustrações. Um sexo casual rola de vez em quando, mas tenho cada vez menos gostado dos homens que encontro, a tal ponto de pensar em como o neoliberalismo tem fodido a gente enquanto o moço tenta foder a minha boceta lá embaixo. Não, não estou virando lésbica, Deus não me deu essa oportunidade maravilhosa de nascer não gos

O capital

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Tudo em nome do dinheiro. Deus é dinheiro. Amor é grana. Viver tem um custo (morrer também). Nos drogamos para sermos felizes. Açúcar em excesso, gordura em demasia, remédios de ansiedade e pílulas de felicidade. Nunca fomos tão felizes! (disse a manchete do jornal) Qual o preço dessa felicidade? Depende. Quantos dígitos tens na conta?

Talvez

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Talvez, no seu leito de morte, nos últimos instantes desta vida, você descubra que a inevitável coragem para morrer pudesse ter sido a coragem que você não usou para viver. Talvez, no seu leito de morte, você se arrependa de ter permanecido no trabalho que te consumiu a alegria. Talvez você se doa por não ter dado um basta no relacionamento infeliz, arrastado pelos anos por medo de não saber o que pudesse vir depois. Talvez você lamente por ter se preocupado tanto com o seu peso e tão pouco com a sua saúde. Talvez você se ressinta de ter deixado passar tantos momentos que poderiam te levar além, mas que você se encolheu junto ao temor pelo que os outros poderiam pensar. Talvez esteja claro que você não se levou adiante e, agora, sem poder sair da cama descubra que você poderia ter ido onde quisesse. Talvez você perceba o quanto cultivou mágoas e culpas, raivas, angústias e ansiedades a lhe ocuparem o tempo, o peito e a te afastarem do amor-próprio - e da sua própria paz. Talvez,

Apocalipse

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A gente vive nossas vidas cotidianamente como se houvesse tempo para realizarmos todos os nossos projetos pessoais. Vez ou outra inventamos uma novidade, abortamos algumas ideias porque elas não correspondem mais com a nossa vibe no momento e seguimos em frente, atrás de novas coisas para nos ocupar. Diariamente nos pegamos imersos a uma rotina tão cansativa que nos falta tempo de encontrar as pessoas, sair de casa mesmo cansado, beber um vinho naquele copo de extrato de tomate e ver a vida passar. Adiamos sempre que possível. O “vamos marcar algum dia” ou “essa semana, sem falta, nos encontramos” estão tão presentes em nossos diálogos e tão distante de nossa realidade. Não encontramos mais ninguém, não fazemos mais nada além de nos atirarmos na cama depois de um dia intenso de trabalho/ estudo e interagimos virtualmente com as pessoas sem a necessidade de nos encontrarmos com elas. Tá bom né? Outro dia. Outra hora. Outro momento. Mas aí descobrimos que um asteroide entrou em po

À Deus (Adeus)

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Arrumei tudo o que tinha e coloquei numa maleta pequena, cabia tudo de que precisava ali. Saí porta afora, passos rápidos e sem olhar para trás para que o arrependimento não batesse e eu voltasse como tantas outras vezes que já cheguei a perder as contas. Tomei o primeiro trem, bilhete só de ida, mala embaixo do assento, longe da janela para não me perder em pensamentos bobos. Em cima do aparador da sala um bilhete, letras desleixadas, afinal escrevi entre a pressa e o tremor incessante de minhas mãos. Cinco letras, uma palavra, uma carga pesada: Adeus. Sempre achei esse vocábulo forte demais, mas era necessário. Adeus. Vou não porque deixei de te amar em algum momento, muito pelo contrário, lhe amo com todas as forças que existem em mim. Vou, pela simples razão de que quanto mais aqui fico, menos consigo me amar. Adeus, e à Deus meu futuro.

Erros

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Erramos nos primeiros passos, nas palavras pronunciadas na infância. Erramos trajetos, escolhas, erramos com nossa família e pessoas que gostamos. Somos errantes. Oxalá fôssemos tão infalíveis como exigem de nós o tempo todo ou em algum momento da trajetória na Terra pudéssemos ler o script da vida e assim seguir um papel coerente ao que desejam de nós. Mas não, não temos esse poder. Então, erramos. Erramos para nos erros buscar os acertos e, por vezes, acertamos mais. Acertamos tanto, mais tanto, que parece que chegamos ao ápice da perfeição e da infalibilidade. Sim, atingimos um local antes reservados aos anjos, somos Maria no altar de uma Igreja barroca, idealizados como as mulheres românticas. Entretanto, somos reais, somos falhos. O nosso DNA reserva culpa, medo, insegurança e mais uma infinidade de coisas que varremos para debaixo do tapete como uma faxina falsa para impressionar as visitas que chegaram de surpresa. Sim, iremos errar vez ou outra e irão nos queimar em uma g

Livre, livre-se.

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Quando eu era adolescente, acreditava que uma pessoa era bem-sucedida somente quando ela possuía um emprego estável, uma casa própria e um carro na garagem. E filhos, sim, todas as pessoas de sucesso tinham muitos filhos e animais de estimação. Um comercial de margarina. Enganei-me, romantizei demais a vida. Com quase trinta e Saturno retornando sei lá para onde sei que o sucesso de alguém se condiciona a ela estar feliz em qualquer lugar que ela queira.  Alguém pode ser feliz e realizado montando de um negócio numa cidade minúscula do interior onde o canto dos pássaros é o maior barulho que existe, ou ter alegria ao ganhar a vida tocando em barzinhos que recebem poucas pessoas durante a semana, mas que lotam aos sábados e cagar para um emprego formal e careta, e decidir que sua casa é onde se está e alugar um micro apartamento onde tem poucos utensílios domésticos. Locomove-se a pé ou de bicicleta, porque não se obrigou a convenção social de uma carteira de motorista e acha que

Crianças crescidas

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Quando éramos crianças, nos ensinaram a ser educados com as pessoas. Entretanto, com o tempo isso foi esquecido, uma vez que constantemente somos agressivos com o outro, cruéis até, e tratamos de justificar nossas grosserias ora como liberdade de expressão, ora como merecimento do alheio de ouvir “certas verdades”. E na escolinha, ensinaram-nos a repartir o lanche, os materiais, os brinquedos, mas a cada centímetro a mais na régua que nos media, aquelas que nossos pais colocam atrás das portas para acompanhar nosso crescimento, o nosso egoísmo só aumentava. Disseram também que mentir é feio, mas nos apegamos a inventar situações e coisas de tanto ver os mais velhos que no fim acabamos nos tornando metralhadoras de inverdades que disparam loucamente os maiores absurdos e as maiores farsas. Sim, fracassamos como crianças crescidas. Porque deixamos de ser únicos para sermos iguais aos outros. 

Colonizados

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Eles vieram fazer aqui sua bagunça. Suas casas continuavam intocáveis, como bons religiosos que eram, deixaram suas matas virginais, mas aqui atuavam com devassidão e luxúria retirando de nós o que existia de mais sagrado. Nos violaram de todos os modos.  Transformaram nossa natureza em aberração, a alegria que tínhamos precisava ser contida, nossa língua modificada.  Em suas casas nada. Aqui tudo.  Nos largaram como um homem larga a prostituta depois do gozo, suja de todo o seu furor, sem esperar que ela se recomponha. Usada como objeto para desejos vis. Deixaram em nós o pior deles. Retiraram de nós o melhor que tínhamos.  Deixaram-nos.  Sós. 

Para meu amor...

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Hoje eu poderia operar em modo clichê e colocar uma foto cheia de declarações em minhas redes sociais, mas não quis. Você deve ter estranhado, eu sei, e até pensado ou almejado fazê-lo antes de mim, porém também tenho certeza de que você não iria fazer isso sozinho. Digo isso apenas: nós não somos só uma fotografia. Felizmente, conseguimos nos declarar em qualquer momento, mostrar constantemente um ao outro que estamos apaixonados ao torcermos mutuamente pelas conquistas um do outro ficando felizes em situações das mais bobas. Nenhuma foto conseguiria captar algo assim, pois elas só conseguem mostrar o exterior e a nossa felicidade é algo que vem de dentro. Talvez um Raio-X ou uma ressonância consiga tal feito. Ali entre órgãos, ossos, veias, capilares, músculos os especialistas buscariam encontrar aquele amor que pulsa em cada célula. Sem sucesso. Pesquisadores acabaram de publicar uma série de estudos afirmando que os opostos não se atraem. Ledo engano. Explico. Eu, cerveja, vo

Você não precisa saber de tudo

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Você não precisa saber sobre tudo, nem muito menos discutir e debater sobre as coisas que acha interessante ou julga conhecer. Podes optar pelo silêncio, pela negação, por dizer “eu não sei nada a respeito disso” e viver em paz. Olhe que opção linda! A internet tem nos feito querer parecer inteligentes demais, sábios demais, filósofos demais, quando na verdade não sabemos nem o que fazemos de nossas próprias vidas e descambamos para uma total falta de autoconhecimento. Então, combinamos o seguinte, a partir de hoje, tentaremos cuidar mais de nós e evitar essas coisas, deixem que os especialistas cuidem da política, da religião, do futebol, das coisas das quais eles estudaram e sabem (ou não) como conduzi-las. A nós resta apenas uma coisa, a respeitar opiniões de quem realmente sabe mais que nós e não tentar buscar ser crânio em uma coisa que não dominamos.  Viveremos mais felizes assim e com menos problemas.  Eu prometo (ou não).

Bem-aventurados os ignorantes

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Abençoados sejam os ignorantes! Eles não sofrem, eles não sentem dor, eles não conseguem simbolizar muito. Não se preocupam com as artimanhas do patriarcado travestido do homem cis heterossexual e capitalista. Não consegue entender os mecanismos do sistema que se apropria de um discurso desconstruído para lucrar. Não entende as manipulações midiáticas que nos levam a não pensar muito. Os ignorantes seguem a verdade do rebanho sobre a qual alertava-nos Nietzsche, aquela na qual as ovelhas seguem seu pastor sem questionar. Os ignorantes são felizardos por não sofrer tanto, nem mesmo quando caminham para a sua própria morte. Abençoados sejam os ignorantes! Triste de nós que não somos.

Silêncios

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Havia ali um silêncio ensurdecedor. As almas ao meu redor tentam fazer qualquer barulho, a tensão crescente entre eles naquele estado de profunda calma. Batiam nas mesas tentando fazer algum barulho, desenhavam figuras geométricas à lápis nas folhas que lhes foram dadas. Tudo ali os causava pânico. Com o passar dos minutos, que pareciam horas, a agonia crescia. Eles ansiavam por seus celulares como um viciado clama por sua droga, cantarolavam e tentavam puxar uma brincadeira com outro, para minimizar aquela aflição. Queriam o grito, a bagunça, o grito. Queriam o caos, as conversas, músicas altas. Não conseguiam se calar, o mundo lá fora não dormia, aqui dentro muito menos.

Não use filtro solar

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Se tivesse um conselho bom para dar aos jovens de hoje em dia, grupo do qual não me enquadro mais, seria: Não use filtro solar. Sim, Pedro Bial, isso mesmo que o senhor está lendo. Não usem filtro solar! Tomem o sol na cara, sinta a vitamina D entrar em contato com a sua pele, sinta os raios solares causarem pequenas lesões em sua cútis. Arrisquem-se. Temos vivido um momento de extremo e bobos cuidados. Cuidamos do nosso externo para que nos pareçamos sempre bem, mas esquecemos por vezes nosso interior, aquilo que nem mesmo nós conseguimos ainda decifrar. Isso precisa ser explorado a exaustão e precisamos nos arriscar para sabermos realmente de que somos feitos, do que somos capazes e o que podemos fazer nas piores e melhores condições. Então se der vontade de sair da escola, saia. Agora procure fazer algo que preencha seus dias, coloque suas potencialidades em algo maior. Essa não parece ser uma dica muito prudente de quem é professor, mas a gente acaba aprendendo mais fora dos

Eu comi o amor...

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Fui ao mercado e comprei dois quilos de amor. Cozinhei em fogo alto para que ele ficasse pronto logo. Untei uma forma e coloquei para assar. E cada vez que ele esquentava ele crescia. Usei um dos fermentos dos melhores. A massa crescia e eu me orgulhava ao olhar pelo vidro do forno. Coloquei ele em meu prato. Tirei uma foto e postei em minha rede social para que todos soubessem o que tinha feito. Então, comi o amor. Degluti, saboreei. Enchi novamente meu prato. Comi com mais avidez. Limpei o prato, raspei a forma. Eu comi o amor, todo, de uma só vez. Tive gulodice de amor. E hoje estou com azia. Júlia Siqueira

Geração mimimi

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Mi.mi.mi. Este talvez seja o verbete brasileiro do século XXI, afinal está presente em grande parte dos diálogos contemporâneos, mesmo pouco se sabendo sobre sua origem. Mimimi, para muitos, seria aquela preocupação exagerada a respeito de causas, piadas, discursos que são supostamente inofensivos, mas que acabam ganhando proporções inimagináveis. Por exemplo, quando faço uma “piada” de cunho racista e alguns negros se ofendem é que estes não entenderam que aquilo não se passava de uma simples brincadeira e que não, não havia ali intenção nenhuma de ofensa. Ou ainda quando sou fechado por um outro no trânsito e digo que só pode ser mulher (mesmo não sendo), não entendo a razão de algumas mulheres se ofenderem, afinal muitas delas não sabem mesmo dirigir é só uma análise de uma situação, a minha opinião sobre. Pois é, caros amigos, em situações como as acima e em outras tantas o mimimi é necessário. As gerações atuais pegaram um mundo tão desgraçadamente destruído em valores, em r

Uma dose de paixão

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A paixão é um dos maiores enganos da humanidade, aquele fogo que incendeia o seu corpo e lhe deixa febril, delirante, numa febre que não passa nem com mil antitérmicos. Já me apaixonei tantas vezes e quebrei a cara outras tantas, com esses mergulhos profundos que a gente dá em bacias com água pela metade. Não que foi ruim, pelo contrário, foram muito bons. O flerte, a troca de olhares, os beijos, o sexo, porém quando tudo isso acaba eu precisava de algo mais, pois parecia que em cada gozo minhas energias precisavam ser reabastecidas, não de mais uma rodada do sexo-brutal-pré-histórico, mas de silêncio e de paz. E na paixão você não encontra sossego. Você fica antenada todos os dias, uma doente virtual buscando formas inimagináveis de corresponder aos anseios do outro. E se eu fizer desse jeito, e se experimentar esse novo brinquedo sexual, e se eu acender um palo santo no apartamento, fazer um jantar especial... O subjuntivo vira uma presença constante em seu vocabulário, como se

Eu poderia

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Eu poderia ser luz todos os dias, mas o brilho diário é cansativo, sustentar um sorriso no rosto sempre faz com que meus músculos faciais se enfastiem sobremaneira. Então, eu poderia escolher as trevas, contudo isso pressupõe deixar minha vida soturna e sombria de modo que a alegria fosse pouco a pouco sumindo de mim. Logo, sou um pouco de luz e sombras, amor e ódio, paz e turbulência.  Não consigo ser só uma coisa, quero ser tudo, quero ser o todo. 

A felicidade tem um preço?

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Nascer, crescer, pagar contas e morrer, esse é o quadro mais pessimista da vida adulta, mas não menos real. Fico observando colegas e amigos que se matam de trabalhar para acumular bens e ostentar uma vida aparentemente confortável, contudo que vivem infelizes com eles mesmos. Para estes a vida gravita em torno de uma cifra bancária mensal, um carro na garagem e uma casa financiada em muitos anos e fim, temos uma vida supostamente feliz. E viajar? – pergunto. Jamais, muito caro! Viagem é coisa de gente rica. – dizem. Porém, são os mesmos que, contraditoriamente, gostam de sair para uma festa com uma banda desconhecida e colocar uísque e energéticos em cima da mesa de madeira puída, afinal traz mais visibilidade, sabe-se lá para quem. Gastam somas vultosas em roupas de gosto duvidoso para se mostrar para uma “sociedade” que, convenhamos, há muito deixou de se importar com a marca pendurada na peça que se veste.  E para sustentar essa necessidade de possuir bens, arrumam dezenas

Um dia

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Um dia eu deixei que as pessoas dominassem meus pensamentos de tal maneira que eu não sabia se pensava por mim ou eram minhas ações o reflexo do pensamento dos outros. Um dia permiti ser o padrão alheio. Cortaria minha própria orelha para que acabasse agradando seja lá quem for que tivesse me dito numa esquina qualquer que ela era grande demais ou pequena demais. Fiz inúmeras dietas, me exercitei de todas as formas, li livros que jamais leria, ouvi músicas e fui a eventos que hoje me causam raiva ou tédio. Tentava ser o padrão inalcançável de alguém, sem entender que não preciso agradar o senso estético de todas os seres que habitam o planeta Terra. Um dia eu achei que tinha que fazer de tudo para sustentar um amor, então aceitei amar em dobro, em triplo se necessário e de amar demais acabei não amando a mim mesmo, esse ser que convivo desde quando abri os olhos para essa existência. Um dia acreditei que a felicidade poderia ser a compra de um bem ou ir à uma festa em que est

Não é assim que as coisas acontecem

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você está esperando alguém que nunca vai voltar ou seja você está vivendo a sua vida na esperança de que alguém perceba que não pode viver a própria vida sem você - não é assim que as coisas acontecem Rupi Kaur em O que o sol faz com as flores

God is a woman

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Não nos dê parabéns, não fizemos aniversário. Nos dê seu respeito, mesmo quando eu estou com a minha roupa curta, que não é um convite ou um joguete para querer ficar contigo. Quando eu quiser eu aviso, quando não quiser que você lembre que não é não. Nos dê a força para falarmos o que queremos e aceite nos ouvir. Não coloque sua voz acima da minha, espere que eu fale e ouça, em silêncio, como nós os ouvimos nesses séculos todos. Não violente meu corpo, pelo contrário, aprenda como me fazer gozar sem que eu precise mentir que você é bom de cama. Não me agrida em palavras ou gestos apenas para se sentir melhor que eu. Seja capaz de entender que uma trans é uma mulher como qualquer outra. A biologia nos marca, mas não nos determina, pois não nascemos mulheres, tornamo-nos uma.  Aprenda que uma mulher LGBT não é assim por não ter encontrado um homem. Não gravite nossas vontades em torno do seu pênis. Não diga que faz a maioria das loucuras e comete os piores erros por am

Carnavalizamos

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“Pra libertar meu coração eu quero mais que o som da marcha lenta, eu quero o novo balancê, o bloco do prazer que a multidão comenta...” Carnavalizamos. Uns viajaram, outros ainda descansaram, mas muito curtiram a folia da carne. Sim, o Carnaval é quando deixamos a nossa carne mais exposta, quando esquecemos que somos pessoas sérias trancadas em escritórios com ar-condicionado siberiano e nos entregamos ao calor de outros corpos e somos destituídos de qualquer mera vaidade. Fantasiamos a nossa tristeza e travestimo-nos de alegria. Em alguns dias a dor é deixada no canto da sala para nas cinzas – ressaca no corpo e paz na alma – voltar a ser utilizada. Essa é a máxima da folia: esquecimento. Não podemos e nem devemos ser sérios todo o tempo, graves por todo o sempre e por isso um pouco de leveza é importante. Sem julgamentos, sem preconceitos, nus de nós mesmos, esquecendo que o mundo rui ao nosso redor enquanto o nosso coração só quer a paz de ser alegre consigo mesmo por pouco

Leituras vazias

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Parei de ler comentários nos sites de notícias. Nem com todo o antiácido do planeta colocado em uma enorme jarra e sorvido de uma só vez consigo fazer a digestão de tanta asneira e tanta falta de humanidade. Essas últimas semanas têm sido de tiro, porrada e bomba e parece que já vivemos o suficiente em pouco menos de dois meses (e sofrido também). Difícil entender como esse mundo tem se apresentado para nós, mas é compreensível até certo ponto dado a forma como as pessoas tem agido. Uma mulher é espancada por longas horas e tem o rosto desfigurado por um criminoso. A culpam. Como uma mulher “daquela idade” leva um cara mais novo para casa? Pediu para apanhar mesmo! A apontam, mesmo sendo ela a vítima. Matam sua dignidade com mínimas palavras. Em um outro momento noticia-se a traição do marido e acusam a mulher que supostamente é o pivô da separação. A responsabilidade não era do cônjuge? Não!   Aparentemente era das mulheres em seu redor, que precisam entender que ele é casa

Quero ver se você suporta!

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E hoje me encontro só, mesmo acompanhada, sinto as pessoas esbarrando a meu redor e me vejo inerte com preguiça de caminhar, afinal não sei qual rumo tomar, por qual dessas vielas seguir, sem saber quem irá me acompanhar. Pergunto-me, para onde vou? Não sei. Escuto o silêncio cortante não me dizer coisa alguma. Um dia eu tive você ao meu lado, presença que preenchia todos os vazios e me fazia entrar em ebulição cheia de mim e de ti, e de um nós que hoje já não sei se existe. São cobranças para que eu mude aquilo que um dia me deixava livre e te fez se apaixonar por mim, é uma ideia fixa de que todo e qualquer ser vivente me quer, me deseja, e a necessidade de que eu seja um troféu em constante exibição dentro de um nicho blindado. Nicho seu, para admiração alheia e tristeza e aprisionamento meu. Alguém me esbarra e eu caio. Derrubam junto com meu corpo os dolorosos delírios que tomavam a minha mente. Acordo. Desperta, decido que não preciso de ninguém para me dizer qual rumo to

Mantra

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Um dia você vai querer fazer tudo diferente do que já fez até aqui e irá se arrepender de tantas coisas, dos beijos que não foram dados e das palavras que não foram ditas. Talvez bata o arrependimento do silêncio que não foi feito e dos gritos que soaram em hora inapropriada. Quando esse dia chegar não fique triste. Nós temos essa mania de achar que as coisas podem ser modificadas e amamos utilizar os “e se...” em momentos impróprios. Visualizamos várias possibilidades, muitas linhas temporais e ações diversas em um só momento, sem nos dar conta de que as coisas tinham que ser do jeito que elas foram e nem tudo pode ser modificado pela simples força de nossa vontade. Não se arrependa do ontem - digo para mim rotineiramente como um mantra matinal. Pensemos que no agora temos a oportunidade de acertar diferente (e errar também).

Não me ame tanto

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Não me ame tanto, nem eu sei me amar. Cresci não aprendendo o que amar em mim. Por isso repito: - Não me ame tanto! Tenho medo de tanto amor assim. Será que consigo corresponder? Como responder a essa chuva de amor? Você me ama? Ou projetou algum tipo de amor em mim? Paixão? Tesão? Vontade? Uma pegadinha dessas de Tv? Onde estão as câmeras filmando minha cara de trouxa? Você me ama? Não, né?! Amor é difícil até para as pessoas mais altruístas. Eu nada disso sou. Eu nada disso tenho. Então, não me ame, eu imploro. Nem pouco e nem tanto. Não me ame, apenas. Não sei o que fazer com tanto amor assim. Eu jogo tudo no lixo. E fujo. Júlia Siqueira

Autocuidado

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Autocuidado é você entendendo que pode cuidar de você antes de cuidar de alguém. Um dia eu fui uma pessoa que não cuidava de mim mesmo, aí vi que as pessoas não poderiam me ajudar naquilo que somente era de minha responsabilidade. Os pesos, as decisões eram minhas e o outro poderia me auxiliar com um norte, mas nunca tomar as rédeas e me guiar pelo caminho que deveria trilhar. Então decidi procurar ajuda de um profissional, uma terapeuta. E durante dois longos anos entre uma sessão comecei a aprender a lidar comigo e a partir de mim me relacionar com o outro. Foi somente quando entendi como lidar com minhas emoções que pude entender várias coisas sobre o sentido de tudo o que vivia. Eu me negligenciei por anos, deixei de ser por mim para ser para outras pessoas, seja no trabalho, em casa ou na vida afetiva, fazia ou deixava de realizar coisas com medo do que outro pensasse a respeito daquilo. Lutei para ser aceito em espaços que eu não queria, vendo que era apenas uma forma de n

Faxina

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Rasguei todos os papéis acumulados, ordenei as roupas por cores, alinhadas como se tivessem dispostas em uma loja de grife, lavei as cortinas da sala, troquei a roupa de cama batendo de leve nos travesseiros para sentir o cheiro de lavanda que tem o amaciante novo que comprei. Fiz uma faxina externa para que eu possa abrir espaço para uma dentro de mim. Peguei papel e um lápis já gasto e me sentei na cama, para escrever o que eu quero fazer a partir de hoje – um sábado de chuva, de céu cinza cheio de nuvens -. Na primeira linha escrevi que pararei de me importar com opiniões alheias, afinal o peso das escolhas cairá sobre os meus ombros. Me afastarei de algumas energias, de pessoas que vampirizam, intoxicam com queixas e lamentações infinitas. Correrei léguas de quem se inquieta com as minhas conquistas, quem se sente pequeno diante do brilho alheio, quem maldiz e maltrata. E estudarei com afinco, lerei com voracidade, como quem consome uma droga após dias de abstinência. Plane