A desumanização


O ser humano é o único ser (até que se prove o contrário) que tem a capacidade de autoconsciência de seus atos, de racionalização e abstração. Isso significa que fomos dotados de habilidades únicas, que nenhuma outra criatura possui neste planeta. Entretanto, contraditoriamente, somos uma das únicas espécies do reino animal que consegue realizar constantemente o processo inverso e negando essas aptidões.
 Somos humanos, mas é comum desumanizarmos. E quando fazemos isso? Quando abrimos mão dessa potencialidade toda? Não é difícil encontrarmos pessoas desumanas por aí, e não são apenas aquelas que atentam contra outros de sua espécie com violência. Esses, pasmem, são exceção.
Quando você se torna o que você mais odeia na vida para agradar alguém, você se desumaniza, porque você deixa de usar a sua racionalização. Quando nos apequenamos para caber em cubículos, ou tentamos nos expandir demais, mesmo tendo certeza de que não podemos dar conta do mundo inteiro, jogamos no lixo nossa autoconsciência. Quando dizemos que amamos muito alguém a ponto de nos tornamos coadjuvantes de nossa própria vida, afirmamos para a natureza que não merecemos ser especiais.
Nos desumanizamos, mas temos inteligência para nos reumanizarmos. É lento, é doloroso, é reelaboração de crenças e ideias, é dizer não, é desconstruir o que se acha ser verdade, é viver, retomar as rédeas mesmo sabendo que o peso delas pode machucar as nossas mãos. É ser em um mundo de existências medíocres e passageiras. 

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