Cansada

Cansei de esperar você dar um sinal de vida. Então, tive que abandonar seu corpo em uma maca qualquer como um médico faz quando se perde um paciente. Tive a mesma sensação de impotência ao ver o nosso amor sofrendo uma parada cardíaca e perecer, e eu ali sem recurso algum para reverter a situação. Acabou, você morreu mesmo continuando vivo e me restou as lacunas, o vazio e a ausência.
Ele passará a viver agora uma vida novinha em folha, em outro lugar que não quero nem saber onde é ou que ônibus devo tomar para se chegar até lá. E eu, terei a mesma vida, agora sem ele. Não foi culpa dele, houve a morte, mas fui eu já cavado a sepultura.  Jazigo meu, escavado por minhas próprias mãos que não abria a terra, no entanto esburacava o meu peito. Vivi a vida dele sem ele e para ele, traçava meus planos juntos com o dele, visualizava situações nossas que existia apenas no mundo das coisas abstratas, porém ele se foi e agora tenho que inventar uma vida nova ou achar onde esqueci a minha, mas só em perceber o trabalho que terei na tarefa árdua de me reencontrar comigo, me sinto mais cansada. 


Júlia Siqueira

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