O protagonista




Era uma manhã calma de setembro e o inverno se despedia dando lugar ao colorido das flores e a uma brisa que nem de longe lembrava o frio de meses atrás. Estava eu sentado no banco da praça, aquela mesma que vou todos os dias comer pipoca com manteiga enquanto olho minha filha brincar no parquinho. Fiquei ali parado vendo o tempo passar me divertindo olhando as folhas sendo varridas pelo vento e preso aos meus pensamentos. Sabe aqueles momentos em que passa milhares de coisas em apenas uma fração de segundo? Estava num momento assim. Pensava em toda acomodação que vivia. Se antes eu era animado, sorridente, hoje me tornara tão gelado quanto à estação que findava. Minha vida se tornou rotina e isso só é bom pra quem está fazendo reeducação alimentar. Eu me olhava no espelho e não via o meu próprio reflexo, tinha envelhecido rapidamente embora continuasse jovem e minha filha havia percebido isso. Até as idas ao parquinho da praça e a pipoca que comia me angustiava naquele momento.
Aquilo me consumia de uma forma que não se pode mensurar. Embora sorrisse para a minha filha brincando no escorregador, dentro da minha alma havia uma tristeza enraizada. Sabia lidar com os problemas dos outros facilmente, mas parecia que havia faltado a aula na hora de lidar com os meus. Nunca fui religioso, a última vez que fui numa Igreja foi no batizado da minha filha e isso já fazia 8 anos, mas mesmo assim levantei a cabeça olhei uma nuvem no céu, tinha o formato de uma mão, pensei que poderia ser a mão de Deus, a mão que me ajudaria a me tirar daquilo, o meu porto seguro. Só consegui balbuciar duas palavras: - Me ajude! No mesmo instante, a minha atenção foi mudada para uma borboleta que pousava no banco de frente a mim, era linda e suas asas eram azuis e laranja. Percebi então que ela voava livre, desimpedida, preocupando-se apenas de nos embevecer com a sua beleza. Foi aí que um insight, um estalo, bateu na minha mente: - Tenho me preocupado demais com coisas que são efêmeras, dizia eu pra mim mesmo tentando encontrar uma forma de internalizar em ações o que dizia.
Andei em direção a minha filha que agora brincava feliz no balanço. Aproximei-me dela, dei um beijo em sua testa e sentei ao seu lado no balanço e para brincar junto com ela. Acabamos ficando mais tempo do que havia programado antes de sair de casa. Decidi então não mais ficar vendo a vida passar, minha filha brincar sozinha, me preocupar à toa e ser um coadjuvante da vida que os outros pensaram pra mim. Tomei as rédeas que estavam nas mãos de quem quer que seja e me direcionavam para onde eu não queria ir. Optei por ser protagonista da minha vida.

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